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terça-feira, 8 de agosto de 2023

Exclusivo: Transporte de Salvador é ruim por causa do racismo

Mesmo com a renovação de frota dos últimos anos, que segue aquele ritmo de camelo tomando água, muito de uma vez só e depois um longo tempo de abstinência, para depois voltar com grande renovação após uma longa demora, o sistema de ônibus de Salvador segue ruim.

Como em quase tudo Salvador copia São Paulo, a secretaria de transportes soteropolitana resolveu priorizar o metrô, como faz a capital paulista. Tratou logo de extinguir linhas importantes e impôs a desconfortável baldeação, uma tortura em uma cidade onde os ônibus rodam superlotados.

O fim de linhas importantes, a falta de ligações importantes e a imposição de linhas metropolitanas (que ligam cidades vizinhas à capital) de não entrar em Salvador (sob risco de extinção, se depender da sugestão do Ministério Público, chefiado por quem nunca anda de ônibus), torna o sistema de ônibus ainda pior. Neste cenário, a renovação de frota acaba se tornando um mero paliativo ou um reles agrado.

Mas porque o transporte de Salvador é cronicamente ruim. Sinto dizer, mas o motivo é bastante cruel e não está ligado diretamente ao transporte: o racismo e preconceito contra os pobres. Sim, é o racismo que faz com que o sistema de ônibus de Salvador seja ruim.

Acontece que a classe que tem o poder de reivindicar melhorias, a classe média majoritariamente branca, de origem europeia, anda de automóvel. Desde adolescentes, os membros da  privilegiada classe média soteropolitana são educados e evitar ao máximo o transporte público. 

Para a classe média esbranquiçada, ônibus são considerados "caminhões que carregam pobres", como se o povo de baixa renda fossem coisas. Nem bichos são considerados, pois a classe média trata bichos muito melhor do que tratam os pobres.

Desde jovens, pessoas de classe média, mesmo os que possuem déficit de atenção ou alguma coisa que os dificulte na aprendizagem da condução de automóveis, se matriculam em escolas para aprender a dirigir automóveis e se proteger daquilo que eles consideram humilhante.

Afinal, é status cada um ter o seu automóvel, não importa que dinheiro tenham que gastar com manutenção, estacionamento e impostos e nem com causar e até sofrer com engarrafamentos. O que importa e evitar a humilhação de "andar de buzu" ou encarrar o metrô, tendo que conviver com pessoas que esta classe média considera inferior e se apavora por saber que são em número gigantesco.

Sim, porque Salvador é a capital maia negra do país, com enorme número de pessoas desta etnia, habitando quase todos com inúmeras dificuldades financeiras em uma cidade onde o desemprego é problema intenso e crônico, e vítimas constantes de graves preconceitos, vindos de uma classe média que tem o horror de viver rodeada de um grande número de pessoas pretas e pardas.

O transporte soteropolitano tem a função de criar este apartheid e como o povo de cor é considerado inferior, reserva-se para ele o pior, mantendo um sistema precário, falho, mal planejado e de frota que se não velha, é muito mal conservada. 

As autoridades, membros desta mesma classe média preconceituosa, tratou logo de piorar o transporte, como uma espécie de vingança pelo fato dos negros e pardos serem em um grande número. É um cenário triste que dá sinais de estar muito longe de acabar.

Nem adianta esta classe média fingir que não é racista. Ela é racista, elitista e desejaria viver longe do povo de cor. Por isso trata logo de melhorar as coisas para si. Os descendentes dos quilombolas que se virem, se quiserem dignidade.