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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O MPL pode ajudar a direita?

Por: Leonardo Mendes - Publicado no Diário do Centro do Mundo

Imagine uma família com seis pessoas, que precise do transporte público municipal para ir à praia. Quanto ela gastaria por mês se quisesse sair da favela nos fins de semana?

A família vive com um salário mínimo e o bolsa-família, num barraco alugado por 500 reais.

O preço da passagem só faz diferença para os mais pobres, e quanto mais pobres, mais diferença faz.

A classe média já anda de táxi e Uber nos fins de semana ou comprou um carro em 300 vezes. A classe alta vive dos juros da compra de carros e do aumento no preço das passagens.

Só então por meio da empatia podem compreender que 20 centavos fazem diferença.

Podem pensar em quantas latinhas um catador sem vale-transporte precisa recolher para pagar a passagem. E talvez passem a defender então que todos tenham o direito ao transporte público quando quiserem, e não apenas quando puderem pagar.

A única proposta do MPL é que a mobilidade dentro das cidades seja um direito gratuito e universal.

Se isso é possível, já sabemos que sim, e que é realidade em algumas cidades do país e do mundo, inclusive metrópoles como Sidney na Austrália. Os que acusam o MPL de ingênuo e utópico precisam saber disso.

Talvez precisem também considerar o quanto somos cercados por supérfluos e ostentações, quando o que está em jogo é uma questão tão básica quanto pegar um ônibus na cidade.

Mas é compreensível que a direita tenha certeza de que o passe livre é absurdo. Mais difícil é entender a posição de esquerdistas que desprezam o MPL.

Acreditam então que o transporte público necessariamente deve ser cobrado? E que esse dinheiro deve gerar lucro para grupos empresariais?

Ok, mas isso é o que a direita também diz.

E como o MPL poderia ajudar a direita nesse caso?

É uma acusação que se repete, não só em relação ao MPL, mas toda vez que setores da esquerda resolvem criticar governos que se apresentam como esquerda.

Estariam assim fornecendo munição para a direita, apesar de suas ideias completamente opostas.

Ou alguém imagina que um militante do MPL vote em partidos de direita?

Talvez a crítica seja somente à violência de black blocs nos protestos, que fariam o chamado cidadão de bem se afastar da esquerda para tirar selfies com a PM e seus pitbulls.

Mas o que incomoda mais parece ser que o MPL lembra aos governistas que se consideram de esquerda, que os governos não tem conseguido ser muito de esquerda.

Que o sistema impede a mudança, ou então que seus líderes não se esforçam o suficiente.

E assim pode lembrar também o que é ser esquerda, fora de negociações, governabilidades e politicagens.

Lembrar que o passe livre é um ideal da esquerda que o MPL não deve abrir mão, por mais que nenhum integrante seja ingênuo o suficiente de acreditar que estejamos próximos disso.

A longo prazo, todos estaremos mortos, mas o MPL fala ao futuro e não pode ser calado. Cedo ou tarde será ouvido.

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